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III-Um novo palácio

 

No começo da tarde o navio entrou no golfo da Lacônia. O golfo se estendia por entre duas regiões montanhosas, uma esquerda outra a direita. O navio prosseguia passando mais próximo do lado esquerdo. Do barco o rei pode observar a praia: era uma quase uma linha reta que se estendia por uma longa região. Menelau olhou o sol se pondo por entre as montanhas que estavam a sua esquerda. O sol caminhava em direção aos montes, enquanto  seu brilho se refletia nas águas do mar. No final da tarde o navio já se aproximava do território grego.

O navio desembarcava em Helos, numa planície conhecida como Lacônia. Era a região onde desaguava as águas do rio Eurodotas. O rio que passava pela grande cidade de Esparta. O navio parou numa praia próxima a foz do rio Euródotas. Lentamente os barcos começaram desembarcar os tripulantes do navio na praia. Menelau foi um dos primeiros a desembarcar, depois dele iam seus soldados, e então os escravos com Tértulo.

Os olhos do rei grego procuravam descobrir a paisagem onde se encontrava. Ele observava as ondas do mar, que lentamente se quebravam na praia. Via o comprimento da praia... As árvores e arbustos que haviam após a praia, numa grande planície. Aquele campo liso se estendia deste o mar até os montes, e era interrompido apenas no centro, por uma pequena elevação. Esta parte mais alta não era um monte, mas um pequeno planalto e estava do lado direito do rio. Ele olhou para os montes que estavam para além do pequeno planalto.

Próximo ao rio havia algumas árvores e arbustos, e também algumas ovelhas pastando na companhia de um pastor. Menelau observou atentamente e sorriu. Tudo ali parecia transmitir paz; a paz que ele desejava encontrar no seu casamento com Helena.

 “Ah, Helena, sua amada princesa. Ainda não conseguia acreditar que fora tocada pelas mãos de um bárbaro. Nada parecia ser suficiente para lavar aquela mancha. Nem o sangue dos troianos, nem o fogo que reduziu a cidade a cinzas, nem os corpos que se amontoavam uns sobre os outros. Nada!" Menelau levou as mãos ao rosto e apertou os olhos com ódio e desespero. Mas, quando tornou a abrir os olhos não via mais corpos. Só o campo verde, o barulho das águas do mar, e uma brisa suave que batia no seu rosto. Menelau virou-se para seus escravos e gritou:

– Tértulo, até amanhã quero construído um abrigo para desembarcarmos todas as mercadorias.

– Oebalus mande um mensageiro à cidade de Esparta para que tragam meus filhos antes da chegada de Helena.

Já era tarde, mas Tértulo chamou os escravos para dividir as tarefas. Menelau os observava: os escravos troianos e Tértulo. Tentava adivinhar que atividade Tértulo daria para seus escravos à uma hora daquelas. Pois já era tarde. E pensava quanto tempo gastariam nesta atividade. Pelo que via Tértulo fora sábio na divisão. Havia se preocupado com as questões que seriam básicas para passarem a noite. Mas, uma troiana que se atrasava na sua atividade. Ela virava-se a todo o momento para ver o que estava acontecendo com uma menina. Pois a garota corria próxima às águas da praia. Menelau gritou-lhe:

– Não tire os olhos do seu trabalho.

Ouvindo a voz de Menelau, Tértulo voltou o olhar para a escrava expressando uma profunda reprovação no rosto. A escrava, Lépida, não demorou a obedecer. Tranquilo em relação à administração de Tértulo, Menelau mandou trazer o seu cavalo. O rei subiu no cavalo e cavalgou sozinho em direção ao norte, as montanhas. As montanhas estavam com um tom azulado que denunciavam sua distância. Um vento frio, característico da estação, batia no seu rosto. A noite logo ia chegar, e Menelau precisava ser rápido.

Enquanto cavalgava imagens de seus filhos surgiram em sua mente. Ele costumava cavalgar colocando Hermíone e Niscostratos a sua frente. "Agora, não vão mais caber no meu cavalo. Hermíone está com 16 anos, Nicostratos com 12.” Menelau não conseguia imaginar os filhos crescidos. Ele só conseguia imaginar a voz doce de Hermione, e o sorriso peralta de Nicostratos. Também vinha a mente  cenas de Helena com sua filha no colo. Helena era linda. Tinha aquele sorriso, aquele olhar, aquele corpo, que sem esforço atraiam o olhar de qualquer homem, “Posso não ser o homem mais poderoso de toda a Grécia, mas tenho a família mais bela.”

Subitamente a guerra surgiu nos seus pensamentos. Toda aquela guerra fora uma experiência humilhante para Menelau. Primeiro o fato de Helena ter sido sequestrada por debaixo dos seus olhos. Depois veio a constatação de que ele não seria capaz de ir para aquela guerra sozinho, precisava de aliados. Depois o desprezo que ele sentiu no meio dos outros reis. Em nenhum momento os reis gregos viram em Menelau um homem capaz de liderar os exércitos. Foi Agamenon, seu irmão que foi escolhido como o rei dos reis. “ Mas, nada disso importa na minha casa. Sou o rei dos reis para meus filhos. E, para Helena sou o homem que provocou uma guerra só para reconquista-la.”

Depois de um tempo cavalgando Menelau havia chegado ao pequeno planalto, que havia no centro daquela planície irregular. Com agilidade ele desceu do cavalo e olhou para traz, para o mar. “’ Cenário perfeito”. Menelau não se cansava de olhar. Agora o mar estava distante,  ele via as montanhas à direita, e montanhas a esquerda do mar. Ele virava o seu corpo para ver o cenário em todos os ângulos. Aquelas montanhas, que ladeavam o mar se encontravam com as montanhas, estavam atrás dele. Percebeu que os montes do fundo, que estavam mais a esquerda do planalto estavam mais próximos do que estavam à direita do rio. As montanhas atrás dele agora estavam com uma tonalidade azul mais escura, por causa da noite que chegava. Abaixo das montanhas havia aquela longa planície. Planícies tem uma beleza singular.

Menelau tomou um pergaminho que estava preso ao seu cinto e abriu. Menelau já havia olhado para aquele pergaminho tantas vezes. Mas, seria especial olhar daquele ponto, daquele planalto. Menelau abriu o pergaminho. Havia o desenho de uma construção, era a planta de um palácio. Menelau olhou para planta e depois olhou para o mar. “ Sim", ele disse com satisfação "O palácio vai ficar perfeito aqui". A construção seguia o padrão grego. Havia espaços maiores internos, e câmaras menores nas laterais. Como costumes nas casas gregas, havia os cômodos masculinos  na parte da frente da casa, e os femininos, na parte posterior.  No segundo andar haviam os quartos para Menelau e Nicostratos, e na parte posterior para Helena e Hermíone.

 Era um plano simples, organizado, e ao mesmo tempo majestoso. As câmaras laterais seriam adequadas para as atividades dos escravos e as demais câmaras possuiriam a majestade necessária a um palácio real.

Menelau estava satisfeito em relação ao projeto do palácio, embora sentisse um certo receio por estar residindo tão distante de Esparta.

Menelau havia idealizado um novo sistema administrativo para Esparta que tornaria possível sua ausência e morar naquela região distante. O governo seria dividido em dois conselhos  o primeiro representaria a tradição espartana, e seria composto pelos anciãos dentre os nobres,  este conselho cuidaria de questões religiosas e jurídicas, bem como avaliaria a administração feita na cidade. O segundo, conselho estritamente administrativos, seria o Eforado, dele participariam os homens mais nobres, que agiriam em submissão aos anciãos. Desta forma, Menelau realizaria apenas uma supervisão e coordenação administrativa, e não precisaria estar constantemente em contato com Esparta.  

O rei grego montou novamente no cavalo, e desceu o planalto em direção as montanhas azuis. Menelau se lembrava de seus pais e irmãos. O que ele iria viver com sua esposa e seus filhos seria muito diferentes do que ele viveu com sua família.

Desde que era criança ele já sabia que seu pai traía sua mãe com a escrava Ione. Lembrar disso o entristecia, mas ele não  tinha nenhum rancor contra a amante do pai, ela era um mero objeto de seu pai, “um dos” objetos daquele homem. O pai era o autor da sua tristeza. Seu pai destruíra sua mãe, ela foi se tornando amarga, e com o passar do tempo não conseguia mais mostrar carinho pelos filhos. Foi, por este tempo,  que Tiestes, seu tio paterno, seduziu sua mãe e deu início a aquele conflito sangrento contra seu pai. 

Mas hoje não era dia se se lembrar de jacinas,  Menelau cavalgava olhando a paisagem. Via algumas arvores que por causa da estação estavam sem folhas. Lembrava de seu irmão: Agamenon, que seguiu o caminho do pai. Mas, Menelau jurou para si mesmo que seria diferente. Nunca teria uma amante. Quando era jovem ele comentou esta ideia com o rei Nestor. O rei de Philos respondeu: “ Você é um jovem sábio, um homem sábio ama sua mulher".Mas, um tempo depois parecia difícil encontrar uma mulher para dedicar toda sua vida. Naquele momento o problema não era que Menelau não se apaixonava por ninguém. A dificuldade era que ele se apaixonava por muitas mulheres. E , ele se sentia inseguro na escolha de uma esposa.

 Foi, então, que  rei de Philos, Nestor, disse:“A família de Helena é uma família honrada, ela é uma jovem doce e meiga, cheia de virtudes. Além disso, é bela, a mais bela de todas as gregas.” Menelau não se achava capaz de vencer a disputa pela mão de Helena, já que tantos reis disputavam pela linda princesa . Mas, seguindo conselho de Nestor se dirigiu a Esparta para conhecê-la e lutar por ela. Em Esparta ele começou a lutar por Helena...

Estivera lutando até agora...

Já estava escuro quando Menelau finalmente se aproximou das montanhas. Devia ter cavalgado mais rápido para chegar antes. Agora teria que mudar o plano e deixar as montanhas para o amanhecer. Mas, de certa forma já estava satisfeito. Via o formado de grandes árvores que se estendiam na direção rio. A região realmente era fértil. Era favorecida com a brisa do mar, e com as aguas do rio. Menelau virou-se para o sul, para a direção do mar e voltou a cavalgar. Agora de forma mais apressada.

 “Vale a pena lutar por Helena. Se não vale a pena lutar por nenhuma mulher, vale a pena lutar por ela.” Helena havia lhe dado à família que ele tanto sonhou. Menelau se lembrava de como Helena ensinava sua filha Hermíone. Quando ele estava ansioso, Helena dizia para Hermíone correr para ele e dizer “ Eu te amo, papai.”Menelau também se lembrava de sua esposa nos seus braços com um olhar de satisfação. Às vezes também surgia na mente à imagem de sua esposa nos braços de Páris. “ Ela foi obrigada. Ela não teve nenhum prazer nisto” Ele repetia para si mesmo enquanto tentava fugir destas imagens e sonhar com o futuro que ele queria construir.

Buscando as doces imagens de sua família o rei retornou ao  acampamento recém-construído na praia. Agora havia uma fogueira no meio da praia e uma pequena construção de madeira que já se erguia em meio à movimentação dos escravos. Todos trabalhavam, e as crianças não atrapalhavam. As mais novas estavam sentadas ao redor do fogo se aquecendo. As maiores ajudavam. Enquanto o rei observava tudo, Tértulo caminhava até ele.

Menelau desceu do cavalo enquanto surgia diante dos seus olhos a única coisa que não lhe agradava.  Havia duas crianças brincando em meio as ondas do mar escuro. Uma menina e um menino. A menina ria, e pulava quando a onda se aproximava dos seus pés. Tértulo acompanhou o olhar de desagrado de Menelau e viu as crianças. Eram as crianças de Lépida. As mesmas que no começo da tarde distraíram Lépida de suas atividades.

 Tértulo deixou de caminhar em direção ao rei e virou-se na direção dos meninos. Os garotos eram jovens demais para conseguir trabalhar em alguma coisa. Não deviam ter mais que quatro anos. Um soldado estava no caminho de Tértulo, e ele tomou a lança sem temer sua expressão de desagrado. Menelau observava Tértulo atentamente, imaginava se Tértulo teria raiva suficiente para matar a menina ou se usaria a lança apenas para ameaçar . Tértulo chegou até a menina e levantou a lança para cima, e então, com força, para baixo. Com o cabo da lança ele socou o pé da menina. Menelau olhou satisfeito, agora a menina chorava, devia ter quebrado um dos ossos do pé. O menino também estava assustado.

O rei não era um infanticida. Mas, tendo em vista tudo que Páris fizera a sua esposa, ele não podia suportar aquela alegria troiana.

Menelau sorriu e disse para si mesmo “Está iniciando-se uma era em que os deuses do Olimpo serão favoráveis aos gregos. E punirão com ódio todos que ousarem roubar a felicidade dos Helenos!” 

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