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Hermíone estava no terraço frontal do palácio. Ela observava o porto em companhia da sua ex-escrava, Andrômeda, a escrava que Helena  havia tirado da filha. Sua mãe estava voltando de Epiro, e desembarcava de um navio no porto de Helos.

Logo após a semana de sacrifícios dedicada a Afrodite, Helena partiu numa viagem em direção a Epiro. Ela ia buscar o apoio de Neoptolemo , rei de Epiro, para começar uma guerra contra os fenícios. A viagem tinha durado 3 semanas:

– Minha mãe age por manipulação ou por loucura, Andrômeda?

– As vezes penso que sua mãe é sincera e só queira moldar sua família nos padrões que acredita. Helena realmente acredita que esta fazendo o bem. Mas, tenho que admitir isto não explica tudo sobre sua mãe, sua mãe é uma pergunta sem resposta.

– Pode ser. Mas, eu não vou mais tentar fazer amizade com ela. Eu tentei a um bom tempo atrás. Você se lembra?

Andrômeda balançou a cabeça concordando. Ela havia insistido com Hermione para tentar ser amiga da mãe. Havia dito que as diferenças entre as duas não eram assim tão grandes. Hermione era parecida com o pai, e não tinha os gostos da mãe. Depois se arrependeu desta idéia. Helena não era uma boa influência para a própria filha.

Hermiône continuava a conversa:

– Não adianta tentar se aproximar de Helena por nenhum motivo. Nós passamos um bom tempo discutindo com ela sobre os fenícios, e para quê? Você lembra daqueles versos que escrevi para minha mãe?

– Sim, eu lembro.

Hermiône, então começou a repetir uma poesia, com um sorriso sarcástico no rosto.

 

Pela manhã, com Helena, pare de discutir

Pois seus motivos até a tarde irás ouvir

E se pela manhã se recusares a cessar

Só os deuses sabem quando ela ira parar

 

– A verdade, Andrômeda, e que minha família é uma boa família, tirando minha mãe. Estes dias que passamos sem ela foram perfeitos. Espero que ela tenha ganhado algum juízo com está viagem até Epiro, e tenha uma nova opinião sobre os fenícios.

– Preciso ir, Hermíone, sabe o que sua mãe pensa sobre mim e sobre minha influência sobre você.

Andrômeda desceu as escadas, Hermíone continuava olhando a pequena carruagem que vinha subindo pela planície verde. Dois carros, com alguns pertences e escravos de Helena, já estavam chegando ao palácio. Hermíone tinha uma expectativa que com a viagem,  Helena seria capaz de acreditar aquilo que sua família havia lhe dito tantas vezes.

Para Helena os fenícios eram uma espécie de 'encarnação da maldade' e precisavam ser combatidos. Menelau, Hermiône e até Nicostrato discutiram muito com Helena a este respeito. Mas, Helena cansava do assunto, e acabava vencendo. Depois de estabelecer o caráter dos fenícios de forma indiscutível, Helena começou a insistir para que Menelau iniciasse uma guerra contra o povo mercador. Como Menelau se recusava, Helena, dizendo que ele era um covarde, insistia de que ao menos ele fizesse uma aliança com Epiro para lutarem contra os fenícios. Por fim Menelau, concordou que Helena viajasse até Epiro.

Hermiône e Menelau tinha uma expectativa  que, de alguma forma, o povo de Epiro faria Helena perceber que seu temor com respeito aos fenícios não tinha justificativa.

Enquanto olhava para baixo, uma voz, sem folego, a interrompeu:

– Hermíone, Neoptelemo, rei de Epiro, apoiou a causa de Helena.

Lena, sua escrava com a cicatriz de um corte de espada, tinha subido as escadas correndo.

– Neoptelemo guarda ressentimentos. E, parece que uma vez se encontrou com um mercador fenício que o trapaceou e conseguiram comprar de Neoptelemo vários arcos de bronze por um valor bem inferior ao que valiam.

 – Que idiota. Por causa do ressentimento contra um mercador Neoptelemo se colocou  do lado de uma louca e vai começar uma guerra?

– Não é só isso.  Agora para celebrar esta aliança, entre Epiro e Esparta, faltava um grande laço. Um casamento. Você deve se casar com Neoptelemo como sinal da aliança entre Esparta e Epiro. Hermíone ficou sem palavras. Por um tempo olhou para baixo do palácio , pensando se valia a pena pula dali. Entao, finalmente disse:

– Eu mato Helena – Hermíone falava com um ódio que ia se transformando em choro.

– Princesa Hermíone, e eu te ajuda a mata-la.  Não suporto a hipocrisia dela. Ela faz tudo isto dizendo que quer o seu bem,  que quer que se case com alguém entendido no caminho dos deuses.

–  Louca ! Louca ! Louca! Então sou eu que tenho uma cegueira mística e preciso de um marido para dar luz aos meus olhos?

Hermíone descia as escadas em direção ao seus aposentos, não queria nem ver a mãe se aproximando. Também, não iria no jantar. Agora, percebia que as atitudes de sua mãe tinha como objetivo  usar o seu próprio futuro a serviço dos caprichos, ou das suas loucuras. Helena sabia que a filha odiava a ideia de se casar com qualquer um que tivesse alguma simpatia a mãe, e mesmo assim havia planejado aquele casamento.

Hermíone não acreditava no que sua mãe estava fazendo. Mas, não sabia como reagir. Ela sabia que precisava de apoio, pois sua mãe ganhara força com o apoio de Neoptolemo. No dia seguinte, depois de uma noite de choro, a princesa  chamou o pai para passear a cavalo pelas montanhas que cercavam o palácio, Hermíone perguntou:

– Pai, porque tenho casar com Neoptolemo? Hermione olhava para o pai esperando resposta. O sol ainda não havia nascido, apesar do dia estar claro e com uma temperatura  agradável. Mas, Hermione estava aflita.

O pai respondeu:

–  Hermíone, você sabe que já passou da idade de se casar, e que não temos outro pretendente. Alem disso, Neoptoleno é um grande herói de guerra, filho de Aquiles, descendentes dos deuses.

– Mas, ele é um homem cruel, pai. Ele tem sede de sangue, como seu pai Aquiles, e matou o bebê de Andrômeda.

– Eu também teria matado aquele bebê. Se a criança crescesse um dia seria capaz de vingar a morte do pai, e se levantaria contra Neoptolemo.

– Mas, pai, Aquiles não é único herói da Guerra. Porque não posso me casar com... com o filho de Odisseu?

– Telêmaco, é muito jovem para se casar com você Hermíone. Além disso, não temos notícias do pai. Não sabemos se está vivo ou morto. E isto atrapalharia os preparativos do casamento. Além disso, existem outros problemas que enfrentaria.

– Que problemas, pai?

– Não se lembra que os bens de Odisseu estão sendo todos gastos?

– Não.

– Quando Telêmaco nos visitou ele nos explicou suas dificuldades. Os pretendentes que querem se casar com a mãe de Telêmaco, Penélope, que deve ser viúva agora, estão na casa de Telêmaco. Eles se banqueteiam ali e consomem tudo enquanto esperam que Penélope lhes dê uma resposta. Mas, como ela se demora a decidir com quem vai ser casar os pretendentes estão acabando com os bens da família. Se você se casasse com Telêmaco corre o risco de não herdar nada dos bens do rei de Itaca.

– Ah, agora me lembrei. Telêmaco comentou que eles estavam fazendo um verdadeiro caos no seu oikos.

Hermíone ainda tinha uma visão romântica de Telêmaco, ele era um rapaz lindo, mas seu pai estava certo. Ele não era um bom casamento. E Hermíone não queria ser a rainha da pobreza...

– Mas, pai, – Hermíone insistiu... – Porque não posso me casar com Orestes? Poderiamos enviar novos embaixadores a Micenas.

– Hermíone, Orestes desistiu de se casar com você. Infelizmente...

–Pai, ele desistiu por causa dos insultos da mamãe, se fizéssemos alguma coisa, talvez ele ainda me ame...

– Hermíone, Orestes não desistiu por causa dos insultos de sua mãe. Mas, principalmente porque tem medo que você seja como sua mãe...

– Eu não sou como minha mãe

– Eu sei disso, Hermíone, mas o mundo inteiro não sabe. Conversei com Orestes e lhe falei sobre você. Mas, nada do que eu disse o fez ele mudar de idéia. Ele não está mais interessado em você.

Ouvir tudo aquilo enlouquecia Hermíone. Ela se enchia de uma revolta, mas uma revolta que não conseguia escapar do seu peito. De nada valia ela odiar sua mãe, porque Helena sempre vencia.

Neste momento ela cavalgou mais depressa se afastando do pai, mordeu os lábios com força. “Odeio você Helena” Ela dizia  enquanto cortava os lábios com seus dentes. Menelau alcançou Hermíone ...

– Hermíone , acalme-se. Sua mãe deseja este casamento. E eu não vou comprar uma briga com Helena por isto. Veja as coisas boas deste casamento. Cada dia que passa torna-se mais difícil encontrar um pretendente para você.  Além disso, este casamento vai te fazer bem. Porque sua mãe não estará mais perto de você para implicar com o seu comportamento, e fazer de você uma mulher que se encaixa nos seus caprichos.

Hermíone não tinha mais o que responder. Mas, estava revoltada. Amava o seu pai. E, não esquecia o carinho que ele havia lhe dado. Mas, agora percebia o quanto ele era fraco. Sua própria filha não valia uma briga com sua mãe. “Que mundo injusto. Maldita Helena.” Hermíone se revoltava no seu silêncio, pois aquele não era um bom dia para expressar sua revolta . Hermíone se lembrava de que seu pai já havia tido uma discussão muito difícil com sua mãe no dia anterior.

Helena queria sacrificar 7 camponesas virgens para Afrodite. Menelau se recusava porque acreditava que isto atrairia a ira da população contra o rei. Helena dizia que Menelau era um ímpio que temia mais a ira dos homens do que dos deuses. Suas escravas contaram a Hermíone  o  descontrole de Menelau, naquela discussão, e como  ele havia lançado alguns vasos e uma taça de ouro na parede durante o jantar. Hermíone não queria ver uma cena daquela de novo. Por isto desistiu de entrar em mais um assunto difícil.

Enquanto pensava em tudo isto seu pai acrescentou:

– Hermíone, agora você precisa voltar para o palácio. Você sabe que sua mãe não vê com bons olhos o tempo que passo com você. Ela acha que você esta tentando tomar o lugar dela, e diz que você está tentando me colocar contra ela.

Hermíone estava revoltada com mais este problema de sua mãe. Helena competia com a própria filha. Ela a afastava do próprio pai. Mas Hermíone admitia que a mãe estava certa num ponto. Ela realmente queria tomar o seu lugar, mas por bons motivos. “ Você é uma louca piedosa , mãe, alguma mulher precisa trazer paz para nossa família” .

Hermíone virou seu cavalo na direção do palácio e retornou para casa. O pai não a ajudaria a escapar deste casamento com Neoptolemo, mas ela encontraria outros meios para fugir deste compromisso. E encontraria uma forma de se vingar de tudo que a mãe estava fazendo contra ela.

XIII- Casamento a força 

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