XII- Em meio a sonhos e sombras
Naala estava cansada e fechou os olhos. Logo começou a ver fumaça. Fumaça? Sim, a garota já dormia. Via fumaça saindo das casas. Um soldado passava correndo ... “Mamãe! Mamãe!” Ela era uma menina e chamava sua mãe , estava na noite da invasão de Tróia. “ Mamãe!” Viu Lépida se aproximando. “ Vou te levar até sua mãe”. “ Não, eu quero minha mãe .” E saiu correndo. Então o sonho mudou .
Viu um casa. Havia um jardim em frente da casa . As belas colunas troianas sustentavam a construção . Ela viu uma linda moça na porta.. “ Naala, Vem para casa, minha filha ”. Naala correu ao seu encontro e disse de um modo todo especial
–Mamãe.
Ao chegar a entrada da casa viu que não era mais uma menina . Tinha novamente 16 anos . Mas, a princesa Briseis ainda estava lá esperando por ela
– Naala, eu sou sua mãe, a princesa Briseis. Eu te amo.
Ao ouvir as palavras de Briseis Naala entendeu a inscrição que estava atrás do colar: Briseis agapao ( Briseis Agapao), que quer dizer Briseis te ama.
– Antes de morrer na guerra eu roguei aos deuses pela sua vida. Então recebi uma resposta do Olimpo: quando se passarem 10 primaveras, sua filha encontrará a chave da liberdade para restaurar a cidade Troia reinar trazendo a paz para o seu povo.
Neste momento Briseis começou a se afastar . Ela não caminhava , mas seu corpo parecia cada vez mais distante de Naala. A casa com suas colunas também se afastavam de Naala , até desaparecer , Naala abriu os olhos e percebeu que estava no quarto das escravas. Fora apenas um sonho.
Então, Naala passou a mão na sua perna e sentiu o colar amarrado. Rapidamente o desamarrou e olhou a inscrição no verso: Briseis Ag , e os riscos cobrindo o restante da palavra. Não fora apenas um sonho. Ela havia descoberto quem era sua mãe. Sua mãe era a princesa Briseis. Sua mãe não a abandonara nas ruas de uma Tróia destruída. Sua mãe a amava. “Briseis agapao” [Briseis te ama]: era este o sentido do texto atrás da mandala.
Ah, como era bom pensar em tudo isto...Ela fora amada, ela fora muito amada por uma princesa. Não era apenas uma escrava, sem origem , sem destino ...Tinha um destino ... Naala se lembrou do sonho: “quando se passarem 10 primaveras, sua filha encontrará a chave da liberdade para restaurar a cidade Troia reinar trazendo a paz para o seu povo.”“Onde está a chave da liberdade?”
Naala não conseguia mais dormir. Nem percebia que estava cansada. Sua mente procurava uma resposta . Onde está a brecha? ... “Precisava consultar os deuses. Mas, como? Era uma escrava. Não tinha como pagar aos oráculos ou as pitonisas. O que faria ?”
Naala , com um pouco de receio dos deuses, sussurrou um prece em seu íntimo. “Atenas, cheia de sabedoria, tu poderias me revelar este mistério... Onde encontrarei a chave que abre o portal da liberdade... Naala ainda pensava nisto, quando ouviu sons estranhos. "Era Atenas que lhe respondia?” Naala prestou atenção.” Sim, os sons eram reais, e soavam misteriosos como um presságio pronunciado pelos deuses. O som continuava se repetindo, mas Naala não conseguia entender o que dizia. “De onde o som que vinha? Será que vinha do jardim de Helena? ”
Naala se levantou, saiu do quarto das escravas, caminhou para a direita em direção aos aposentos de Helena. Olhando para os lados e vendo que realmente estava sozinha, penetrou no terraço que estava acima do jardim de Helena. Não havia nada no jardim. Mas, o som agora estava mais nítido. A voz que parecia ser de Helena , e chamava por Apolo e Afrodite. “Apolo e Afrodite? Mas, eu chamei por Atenas! ”Talvez tudo aquilo fosse apenas uma coincidência. Ainda, assim, o coração de Naala estava ansioso, ela queria encontrar a resposta. Naala atravessou depressa o terraço, entrou no corredor que dava acesso a parte masculina do palácio, e desceu as escadas sem saber bem para onde ia. Então, percebeu: o som vinha do salão do banquete. Olhando de um lado para o outro Naala chegou ao corredor central do palácio, o corredor que dava para o grande salão. O salão parecia fechado, mas havia luzes dentro dele.
Naala se esforçou para entender o que ela dizia:
“Afrodite e Apolo, que dominais com esplendor, de Menelau tirai o vigor, e a bela façais resplandecer”.
Naala começou a desconfiar que talvez, de alguma forma, pudesse haver uma razão dos deuses terem lhe mandado o sonho justo no dia em que Helena parecia estar envolvida em alguma espécie de ritual. Naala se levantou e caminhou ate a porta. Estava levemente aberta, Naala olhou por ela.
Havia tochas alguns castiçais no meio do salão, e alguns sacerdotes e sacerdotisas com os rostos cobertos. Helena estava no meio do salão, seu corpo parecia estar coberto por sangue. Mas, Helena não parecia estar ferida. Ela falava numa voz não muito alta, mas convicta e repetia e repetia a mesma frase:
“Afrodite e Apolo, que dominais com esplendor, de Menelau tirai o vigor, e a bela façais resplandecer”.
Os sacerdotes caminhavam a volta de Helena, balançando as tochas de fogo. Ela continuava repetindo e repetindo:
“Afrodite e Apolo, que dominais com esplendor, de Menelau tirai o vigor, e a bela façais resplandecer”.
Naala não sabia o que pensar de tudo aquilo. Depois de olhar o suficiente para cena que não se mudava pensou que talvez estivesse enganada. Talvez não havia nenhum propósitos dos deuses em terem lhe acordado naquele momento. Ainda que um presságio por trás de tudo aqui, ela precisava ir, já tinha visto tudo.. Naala virou-se para voltar para o quarto das escravas, quanto viu a chave na fechadura da grande porta do salão do banquete .
“A chave!”
“A chave que abre o portal da liberdade!”
Naala estava tão ansiosa com mensagem dos deuses que retirou a chave da fechadura. Ainda que uma parte dela sabia dos graves problemas que podia enfrentar por causa daquela chave.
Naala saiu rapidamente do corredor. Procurou as escadas que eram reservadas para os escravos e não para os nobres. Rapidamente já atravessava o terraço do jardim de Helena e já estava quase no corredor que levava para o quarto das escravas. Foi quando ouviu passos atrás dela e ficou com medo. Alguém a havia visto fora dos aposentos dos escravos. “Quem?”
– Naala, o que está fazendo fora do seu quarto?
Era Tércio que também estava acordado andando pelo palácio.
– Vi Helena, ela está no salão fazendo um ritual horrível.
– Que ritual?
– Não sei, ela está coberta de sangue amaldiçoando o rei, pedindo beleza eterna. Coisa típica da rainha.
– Eu ouvi a reza, só não entendo porque você esta tão interessada nisto. Você não e tipo de garota que se interessa por fofocas sobre Helena. Você só se interessa pela sua dispensa e pelos seus números. O que aconteceu com você para se arriscar tanto?
Naala olhava para Tercio sem saber se devia contar tudo para ele. Tercio era um bom amigo. Os dois tinham uma amizade tão especial, que as meninas diziam que Naala gostava de Tercio. Mas, não era isso, os dois sabiam. Naala e Tercio chegaram a Hélios sob os cuidados de Lépida. E aquela fraternidade que começou, um tanto quanto acidental, com o passar do tempo foi se tornando mais profunda. Tercio dividia com Naala os seus segredos, e quando estava apaixonado, também fazia Naala rir. Naala contava para Tercio suas descobertas sobre os números e as letras, e foi Tercio que espalhou notícia de que ela sabia calcular, e fez com que ela acabasse tendo um trabalho especial. Ainda assim, tudo que aconteceu com ela eram um tanto incrível de mais para qualquer pessoa acreditar. E, enquanto pensava nisto, Tercio já havia descidos vários degraus e levava Naala para um lugar mais escondido.
–Naala venha por aqui, ninguém vai nos ouvir. Você pode me contar o que esta acontecendo não precisa ter medo. –Tercio atravessava o corredor dos escravos, e tomava uma das lâmpadas que estava num velador na parede. Quando se deu por si, Naala já estava num cômodo pequeno, com as portas fechadas, e onde a luz da lâmpada a iluminava suficiente para não ser possível mais esconder a grande chave que ela tinha na mãe.
– A chave do salão de banquete! Como você conseguiu esta chave?
–Tercio como você sabe que é a chave do salão do baquete?
– Tértulo me falou sobre esta chave, sobre as folhas de oliveiras que havia nela. Eu preciso desta chave Naala, você precisa me dar.
Naala reparou na grande chave que segurava realmente tinha o desenho de folhas de oliveira em sua haste. Mas, não podia entregar a chave a Tercio. Não depois de tudo que os deuses tinham lhe dito.
– Porque você quer a chave? – Naala questionava seu melhor amigo.
– Eu tenho um bom motivo.
– Qual motivo?
– Você é que precisa explicar primeiro o que esta acontecendo e quem te mandou seguir Helena e pegar esta chave. Foi Tértulo, não foi?
– Não.
– Se não foi Tértulo, você pode me dar à chave. Tem que me dar, eu preciso dela. Se eu te explicar o que sei da chave você vai me dar à chave?
–Talvez... Mas, você também tem que explicar também no que esta metido... Você sempre anda de noite pelo palácio, vive enchendo todos de perguntas, e afinal para que quer a chave ?
– Eu tenho muitos segredos que nunca te contei...